quarta-feira, outubro 05, 2011

"Nada em mim é passivo. Tudo em mim fura, arrebenta, endurece, estoura na cara dos outros. Isso é ser mulher? Me diz!

(...)


O que é então essa porra de ser mulher? Que é? É meu sonho, eu com medo do mar gelado e fundo e escuro e então, eu quero ajuda, eu quero pedir, alguém mais forte que me socorra, mas não posso perder e então, o que eu faço? Eu como o forte, para o forte ter.

(...)


A ressaca de querer devorar o mundo e o dia seguinte totalmente cuspida por ele. O que é? É coisa de menina, sempre tem cara de menina. Também não é mulher. Daí, quando canso então, da puta homem, da menina assustada da puta homem. Quem vem? Vem a velha. A velha cansada de tudo isso, querendo dormir e tomar banho desses que esfrega pro tempo passar mais rápido e levar embora alguma coisa minha que dá essa liga insuportável com o mundo. A velha, a venha é ser mulher? O que é ser mulher. Hein?


(...)

Seduzo quando estiver a fim, pode ser? Mas eles não deixam. Eu vejo os olhares. O homem da banca de jornal. O homem na fila do cinema. O olhar de você podia, mulher. Ser mulher. Tem uma mulher aí.


(...)


A mulher que sei ser e que, acreditem, é tão mais mulher que cabeças tolas a chacoalhar brincos grandes e rodar saias e seus babados e rebolar periquitas que jamais derrapam de amor no dia seguinte. E quem não vê, quem não enxerga, quem não ama, quem não sabe. Isso tudo, sabe, isso tudo não é o que vai me impedir, de não saber exatamente nem quando nem como ser mulher, mas acabar sendo tanto, tanto, tanto, que nem parece. Que nem dá pra ver. É isso.

0 comentários:

About this blog

"Tenho amigos tão bonitos. Ninguém suspeita, mas sou uma pessoa muito rica."
Caio Fernando Abreu